A Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é um problema maior de saúde pública. É uma enfermidade prevalente, sub–diagnosticada, inadequadamente tratada, com apresentação e curso clínicos heterogêneos, com elevada morbimortalidade. A DPOC é caracterizada por uma limitação crônica persistente ao fluxo aéreo, geralmente progressiva, associada a uma reação inflamatória pulmonar consequente principalmente a exposição a fumaça do cigarro, exposição ocupacional e a fumaça de queima de biomassa (fogão a lenha, por exemplo).
A DPOC é prevenível, e deixar de fumar é a intervenção mais custo-efetiva para sua prevenção e redução da morbimortalidade a ela associada. Entretanto, uma grande parte de pacientes, mesmo com doença grave, não deixam de fumar e requerem maior apoio farmacológico e não farmacológico para fazê-lo.
Mínimas intervenções como materiais de autoajuda para parar de fumar podem aumentar a taxa de cessação do tabagismo, Conselho médico/enfermagem com duração mínima de 3 minutos por consulta aumentam os resultados, com efeito dose-resposta segundo o número e duração das consultas.
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Para pacientes com diagnóstico recente de DPOC, deve-se avaliar o número de maços/ano fumados (ex – 20 maços/ano, equivale fumar 1 maço dia durante 20 anos ou 2 maços/dia durante 10 anos), identificar o grau de motivação para deixar de fumar, avaliar o grau de dependência do tabagismo de acordo com a escala de Fagerstrom, teste de recompensa, avaliar tentativas prévias de cessação do tabagismo e determinar os valores de monóxido de carbono (CO) exalado. Se disponível seria conveniente também a determinação dos valores de cotinina (metabólito da nicotina) nos fluidos corporais.
Dentre os pacientes com DPOC já estabelecida, cerca de 30-70% continua fumando, apesar de já terem sido diagnosticados com esta moléstia e de serem orientados por equipe médica em várias ocasiões sobre o benefício de cessarem o consumo do tabaco. Neste grupo de pacientes, a abordagem do tabagista tem características específicas e deve ser realizado com empatia, respeito e compreensão por parte da equipe, sendo avaliados os mesmos critérios dos pacientes com diagnostico recente da doença.
Intervenção terapêutica do tabagismo em fumantes com DPOC
A intervenção terapêutica no tabaquismo destes pacientes combina terapia cognitivo comportamental (TCC) e tratamento farmacológico:
Terapia cognitivo comportamental em fumantes com DPOC
Este tipo de intervenção neste subgrupo de pacientes deve abordar os seguintes aspectos:
– Explicação da íntima relação entre tabagismo e DPOC. Os pacientes devem ser informados que o consumo do tabaco é a causa direta da sua enfermidade. Igualmente devem ser alertados dos seguintes aspectos: a) que a cessação do tabagismo é a única medida terapêutica que se mostrou eficaz para melhorar sua doença com impacto na redução da morbimortalidade da DPOC; b) que tratamentos farmacológicos para sua enfermidade será de eficácia muito baixa se persistir fumando, e c) que, pelo contrário, o abandono do tabagismo se seguirá de uma franca melhora da evolução da sua doença e da resposta ao tratamento da DPOC.
– Nos fumantes que se mostrem dispostos a realizar uma tentativa séria de abandonar o tabagismo, a intervenção escolhida será dedicada a escolha de uma data para parar de fumar (dia D), a identificação de situações de alto risco (gatilhos), o desenvolvimento de condutas alternativas, a explicação dos sintomas da síndrome de abstinência e de sua evolução, bem como entrega de material informativo sobre tabagismo e DPOC e de autoajuda para parar de fumar.
– Nos fumantes que não se mostram dispostos a tentar abandonar o tabagismo no momento atual, se insistirá na necessidade de deixar de fumar em todas as visitas que o paciente realizar.
Tratamento farmacológico em fumantes com DPOC que querem seriamente tentar abandonar o tabagismo
O tratamento farmacológico do tabagismo em fumadores com DPOC é obrigatório. As características do tabagismo nestas pacientes e a necessidade imperiosa que têm de abandonar o cigarro obrigam a utilizar sempre tratamento farmacológico e, em alguns casos, a fazê-lo de forma intensiva. Neste grupo, os tratamentos recomendados são: terapia substitutiva com nicotina (TSN), bupropiona e vareniclina. A terapia farmacológica associada a TCC tem melhor efeito do que ambas realizadas separadamente.
Tratamento farmacológico em fumantes com DPOC que não querem abandonar o tabagismo neste momento
Neste grupo se deve insistir, em todas as consultas de seguimento, na necessidade de seriamente abandonar o tabagismo. O uso de fármacos como a TSN e a vareniclina mostraram, em alguns estudos, eficácia e segurança para ajudar a deixar de fumar pacientes que, mesmo não querendo parar de fumar neste momento, se mostrarem dispostos a reduzir o consumo do cigarro.
Clínica do Pulmão.